segunda-feira, maio 07, 2007

Pedra do Sal - Pequena África no Rio


Pintura: Pedra do Sal em 1608 - Centro RJ Pertence: Acervo Espaço Cultural Pedra do Sol

A História da Pedra do Sal

A Pedra do Sal é um monumento histórico da cidade do Rio de Janeiro. Dali, os moradores da Saúde saudavam os navios que chegavam da Bahia com familiares e amigos. A Pedra do Sal era, para migrantes, o que é hoje o Cristo Redentor para os recém-chegados ao Rio: O primeiro abraço e o primeiro sentimento da cidade.

Ocorre que os moradores da Saúde, e seus migrantes eram predominantes negros baianos – retornados da guerra contra o Paraguai (1865/70), uns; em busca de melhores condições de vida, outros. A Saúde, debruçada sobre o Porto, era uma pequena Bahia (como a Bahia, por sua vez, era uma pequena África).

Lá se encontraram as celebres tias, cabeças de famílias extensas – Bibiana, Marcelina, Ciata, Bahiana... Pretas forras. Foi nas suas “pensões” que o batuque e o jongo se transformaram em partido alto e, logo, no amplo espaço da Praça XI, no samba que conhecemos.

Os pretos da Saúde, e suas tias, participaram dos principais eventos da cidade: Abolição (1888), Revolta da Armada (1891/93), as greves de 1903/05, a Revolta Contra a Chibata (1910), e outros. Participação amplamente documentada, embora subestimada pela historiografia conservadora.

Já não existe a Praça XI. Nada sobrou das “pensões” onde nasceu o samba. Boa parte da Saúde (e da Gamboa, da Conceição, Providência e do Estácio, que a prolongavam) se descaracterizou. Ficou como raro testemunho da cidade negra, a Pedra do Sal.



Foto: Pedra do Sal - Internet

A importância Cultural da Pedra do Sal

A Pedra do Sal é um monumento religioso do povo carioca. Na virada do século, a Saúde, como o velho centro do Rio, enxameava de templos afro-brasileiros; ialorixás, cambonos e alufás em cada quarteirão. Os templos católicos foram tombados e preservados. Nenhum afro-brasileiro o foi.

Na Pedra do Sal se faziam despachos e oferendas (a Obaluaie, Xangô, Ogum, Exu, Iansã e outros Orixás), se despejavam trabalhos. Era e é, local consagrado. À sua volta, convergindo nela, ficavam diversas “roças”, hoje desaparecidas, reduzidas ou transferidas para o subúrbio e Grande Rio.

Remanescendo como espaço ritual, a Pedra do Sal é um dos poucos testemunhos físicos daquele passado de densa religiosidade carioca. Também é um lugar místico para a cultura negra e para os amantes do samba e do choro.

A Pedra do Sal pode ser considerada como o núcleo simbólico da chamada "Pequena África" de que falamos acima. A região em torno da Pedra do Sal era repleta de zungus, casas coletivas ocupadas por negros escravos e forros.



Foto: Pedra do Sal - Claudio salgueiro


Foto: Pedra do Sal - Prefeitura do RJ

Berço do Samba Carioca

O ponto de encontro do ritmo carioca era um ambiente recheado de inspirações vivas de grupos de samba e ranchos de carnaval. O Samba nasceu efetivamente dos terreiros da cercania do porto sob contribuições decisivas das músicas que eram cantadas e, sobretudo, das reuniões ali promovidas.

Tendo a cidade sido durante muito tempo o foco das migrações internas do Brasil, o Samba beneficiou-se dessa fusão que absorveu durante anos características importantes das manifestações culturais trazidas pelos negros e daqueles nascidos em terras brasileiras como resultado das contribuições africanas, indígenas e portuguesas. Por isso a Saúde é reconhecida como berço da cultura popular carioca.

Dos moradores do lugar destacam-se Machado de Assis, um dos maiores escritores brasileiros, nascido no morro do Livramento e João da Baiana, compositor e percussionista carioca, introdutor do pandeiro no samba. Nas décadas de 20 e 30, os ranchos de carnaval atingiram o auge.

Ali se reuniam Donga, João da Baiana, Pixinguinha e Heitor dos Prazeres - precisa dizer mais? Fica a 100 metros do Largo de S. Francisco da Prainha, onde tocamos, virando ali na esquina do bar do sr. Adão. Na base, há um botequim, no Largo de João da Baiana. É uma pedra, com degraus escavados, por onde se pode subir para o Morro da Conceição, que é um passeio imperdível para qualquer carioca que se preze.

Deixaram de ser a manifestação popular da Pedra do Sal e passaram a fazer sucesso nas camadas mais altas da sociedade. Foram em bairros como Saúde, Gamboa e Santo Cristo, que também se originou e se definiu o botequim. O gênero surgiu a partir das antigas "boticas", pequenos armazéns de secos e molhados em que se encontrava de tudo.

Os cariocas costumavam passar pelas "botiquinhas" para completar as compras que faziam nas feiras, e aproveitavam para degustar alguns quitutes, acompanhados de um vinho. Sem ser restaurantes, essas casas, uma mistura de armazém e bar, criaram um estilo que sobrevive em todo o país, com alguns exemplares autênticos remanescentes dos velhos tempos.

É o caso do bar do Seu Domingos, de 1922, no Santo Cristo; do bar do seu Odilo, de 1910, na Saúde; ou, ainda, do próprio e tradicional Recanto da Pedra do Sal.

Embora situados a muito poucos minutos do burburinho da Praça Mauá e da Avenida Rio Branco, um dos maiores eixos de circulação do centro da cidade do Rio de Janeiro, os bairros da Saúde, Gamboa e Santo Cristo refletem, pela vida de sua população, uma significativa distância comportamental do restante da cidade, revelada em hábitos, padrões de comportamento e formas de uso do espaço público não mais encontrados no restante da cidade.

A imagem de calma e tranquilidade é transmitida pela permanência das festas coletivas, das cadeiras nas calçadas e das conversas nos fins de tarde.

Fontes: Sites - Circuitos do Rio, Centro da Cidade, wikipedia.org



Foto: Placa na Pedra do Sal - Internet

Vivenciando a noticia: Minha Infância na Pedra do Sal

Este local é muito especial na minha vida. Lembro-me que morava na Rua Sacadura Cabral que fica na esquina(a Rua sede da Cedae), estudava no colégio Municipal Vicente Lícinio Cardoso na Avenida Venezuela (em frente a antiga sede da LBV), adorava brincar neste local de escorregar em pé neste espaço entre das duas escadas e sentado com papelão. Engraçado como na imaginação de uma criança algo tão simples possa se torna tão emocionante não?

Fugia dos bate bolas (Clovis), jogava peteca, Peão, bola de gude e empinava pipa neste mesmo espaço. Quantas vezes eu não fugia de casa para brincar ali escondido...rsss O meu primeiro cão (O Santana) encontrei ali. Cachorro malandro que já tinha moradia, mas que não via mal algum em ter dois donos, duas casas, dois lugares para brincar e comer bem.

No inicio da adolescência alguns amassos em algumas meninas no canto direito logo na metade da escadaria no final da tarde ou inicio da noite...rssss Assistia a Roda de Samba ao menos uma vez ao Mês colado ao bar(de esquina a direita da foto), alguns artistas apareciam ali para gravar cenas de uma novela, comercias sempre foi natural devido a preservação das faixadas dos casarões históricos.

Quando eu queria ficar quieto na minha me deitava na pedra e admirava o céu, tentava desvendar os desenhos das nuvens, também conversava ou namorar enquanto admirava as estrelas. Posso dizer com certeza que aproveitei e bem a minha infância e o inicio da adolescência neste local tão histórico para o Rio.

Rogério Moraes


* Texto publicado originalmente em 27/03/2007 no extinto Rio que Amo 2 assim como os 7 primeiros comentários encontrado neste Haloscan

9 comentários:

Anônimo disse...

Isabel-F.disse...

Magnifico este teu Post.
Gostei imenso de ter ficado a conhecer mais este local da tua Terra ...
as fotos são maravilhosas ... fazim lembrar a minha África...

Beijinhos para ti

28 de Março de 2007 05:34

Anônimo disse...

Lulu on the sky disse...

Parabéns pelo post Rogério. Muito interessante saber mais sobre a história da sua cidade.
Big Beijos

28 de Março de 2007 17:27

Anônimo disse...

Claudinha disse...

Olá Menino quanto tempo! Gostei do post. Esta pedra parece demais com a pedra da saudade, lugar onde brinquei muito quando criança. O Rio de Janeiro continua lindo... Um beijo!

31 de Março de 2007 21:59

Anônimo disse...

Homero Montenegro disse...

Caro Rogério,

Parabéns por seu blog declaradamente apaixonado pela cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.

Como carioca, fiquei contente em aprender um pouco mais sobre um espaço tão importante culturalmente para a cidade como a Pedra do Sol.

Em meu blog, sempre que possível, faço questão de falar sobre a Cidade Maravilhosa.

Abs,
Homero Montenegro

15 de Abril de 2007 07:56

Anônimo disse...

Fabiana( perdidinha...) disse...

uhuuuuuuuuuuuuuu!!!
Muito lindo isso tudo!!!
Lindo de se ver e de se ler!

beijocas.

15 de Abril de 2007 15:55

Anônimo disse...

Lê disse...

Rogério, acho que o seu blog é que merece os parabéns por trazer cultura a esse nosso povo.
Obrigado pela visita e desde já esteja avisado que colocarei um link lá no Loucuras.
[]´s

20 de Abril de 2007 08:25

Rogério Moraes disse...

Clarilis disse...

Rogério,
Enfim tirei um tempo pra ler aqui.
Parabéns pelo texto muuuiito bom.
Dá vontade de conhecer.
As fotos lindas, as referências históricas ótimas.
Beijus
Clarilis

28 de Abril de 2007 16:25

Rogério Moraes disse...

Dário Dutra,

Agradeço o destaque e espero que você seja um dos comentaristas deste espaço uma vez ao menos na semana mesmo que de forma anonima.

Esta Seleção me deu um novo folego no blog e graças a isso voltarei a postar neste espaço como já tinha sido solicitado por amigas queridas.

Um abraço! Obrigado a todos

P S ASSIS disse...

É rapaz, muito bom, mas muito bom seu post, gostei mesmo, eu que tinha uma curiosidade imensa em conhecer a Pedra do Sal mas por falta de oportunidade ainda não o tinha feito, através do seu blog, acabei conhecendo. PARÁBENS, continue assim, mostrando conhecimento e cultura ao nosso povo.